Venture Capital

Qual curso da USP tem a mesma chance de uma Série E?

As Taxas de Graduação Entre Rodada. Há um famoso estudo da CB Insights sobre o funil de VC. Cruzamos a base do The Plot para trazer algum outro aspecto interessante sobre o tópico como taxas de graduação entre rodadas. O exercício ficou bem interessante.
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Qual curso da USP tem a mesma chance de uma Série E?
Qual curso da USP tem a mesma chance de uma Série E?

Foto: Photo by Nguyen Dang Hoang Nhu on Unsplash


Founder Scale (“FS”) e Empreenda TripleDouble (“E3D”) são 2 amigos de longa data, discutindo como atacar uma decisão super difícil: qual vestibular prestar?

- FS: Não faço ideia do que fazer, Empreenda. Acho que tenho aptidão para exatas, mas o meu chamado é para Medicina.

- E3D: Como você sabe do seu chamado, Founder?

- FS: Na verdade não sei, mas o propósito, a imagem do médico, a busca de ajudar no bem estar do próximo, me chamam atenção. Uma atividade muito nobre!

- E3D: Que legal! Não tenho essa clareza do meu lado, infelizmente. Só tenho uma certeza: quero fazer USP!

- FS: Não fique assim, Empreenda. Você sempre foi a melhor da turma em tudo, vai saber qual escolher com o tempo.

- E3D: Não posso esperar, Founder. Vamos aos dados para ajudar na primeira etapa do processo: quais são as chances de cada curso? Temos os dados da Fuvest 2021 abaixo dos 10 cursos com a menor proporção de vagas/inscritos. 

- FS: Meu DEUS, Empreenda! É muita gente querendo fazer Medicina. Já não tenho mais certeza se quero esse chamado…

- E3D: Calma, Founder. Sabemos que essa primeira informação assusta, mas também sabemos que você é mais bem preparado que outros candidatos por um mix de talento e sorte:

  • Sorte: nasceu em uma família carinhosa, que tinha condições de ter dar educação, acesso a saúde de primeira qualidade e também aos melhores colégios particulares;
  • Talento: eu vi o quanto você estudou todos esses anos todas as matérias (máquinas?) e os resultados que alcançou, para chegar mais bem preparado nesse momento;
  • Logo, a despeito da proporção vagas/candidatos dar medo, se medicina for mesmo o seu caminho, estimo que as suas chances são consideravelmente maiores do que essa primeira informação indica.

- FS: Obrigado pela força, Empreenda. Lembrando aqui, você sempre foi uma programadora precoce, por que não seguir com uma formação nessa linha?

- E3D: Penso bastante nisso, mas me preocupo com uma potencial limitação em um segundo estágio da minha vida profissional. Pode fazer mais sentido eu buscar uma carreira com mais opcionalidade agora, para depois focar no que eu descobrir que realmente gosto lá na frente. Ao mesmo tempo, minha família é de empreendedores, que acho fascinante.

- FS: Agora eu que vou ao ponto: administração, economia e engenharia podem proporcionar mais flexibilidade, porém vale ressaltar que engenharia tem mais link com computação. Que dados temos deles?

- E3D: Caramba, Founder! Se eu estivesse disposta a sair de Sampa, iria fazer engenharia de produção em Lorena: bem mais fácil em termos de vagas/inscritos, e dado que tive uma infância e adolescência parecida com a sua, estimo que minhas chances continuam boas comparativamente, a despeito de não ter mais infos sobre outras dimensões dos concorrentes.

- FS: Verdade. Sabe de uma coisa, esquece o que falei antes. Tenho um novo plano: vamos fazer engenharia na Poli e depois fundar a nossa própria startup! Os valuations estão nas nuvens, ficaremos quatrilhardários! Acabei de perceber que medicina não é para mim…

- E3D: Tops! Não querendo ser chata, mas qual seria a chance de sucesso de uma startup? Tem diferença por modelo de negócio e/ou setor?

- FS: Não importa! Vamos juntos!

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Discutimos o estudo famoso da CB Insights sobre o funil de VC outro dia, e pensei em atualizar com a base do nosso querido The Plot, para ver se a gente conseguiria trazer algum outro aspecto interessante sobre o tópico: taxas de graduação entre rodadas. Apesar de alguns disclaimers (descritos no final do artigo), o exercício é bem interessante.

Sem mais delongas, o que os dados nos mostram:

The Plot, base global, powered by PitchBook

Comentários:

  • A nossa amostragem começa de quem fez uma rodada de seed e que os dados da rodada foram capturados pelo PitchBook. Então, quer dizer que das startups que fizeram uma rodada de seed, aproximadamente 1 em 5 (21,16%) conseguem fazer uma série A, 1 em 10 (12,36%) conseguem fazer uma série B, e assim por diante;
  • O cálculo para fazer sobre a probabilidade do seed é complexo, por sofrer mais relativamente do problema de não serem capturados pelas bases. Seria um caso de viés de sobrevivência mais agudo, dado que os que conseguem fazer o seed tem mais interesse em “cadastrar” os deals do que os que não conseguiram;
  • Vale a nota que não ter conseguido fazer uma rodada subsequente não quer dizer necessariamente que foi um fracasso: as startups podem ter decidido por um M&A, seguir com caixa próprio ou falir.

Para dar mais segurança sobre a amostragem, fizemos a quebra por safras para ver como se comportam os dados:

Comentários:

  • Comportamentos persistentes ao longo de safras. Interessante para a perspectiva estatística;
  • Conforme descrevemos no artigo sobre a teoria por trás do The Plot, os sistemas complexos adaptativos têm a característica de fractalidade. Então podemos inferir que alguns comportamentos/dimensões relativas dos mercados mais maduros e/ou maiores têm grandes chances de se repetirem nos mercados menores, imaturos. Acreditamos que seja esse o caso aqui. Ou seja, o mercado brasileiro tem boas chances de se comportar de maneira parecida aos dados acima, ou pelo menos caminhar para essas médias ao longo do tempo.

Ao analisarmos a probabilidade entre as rodadas, temos:

Comentários:

  • Interessante que quando você chega na série A, suas chances para a próxima rodada aumentam consideravelmente. Basicamente 1 em 2 seguem adiante;
  • Isso reforça alguns estudos sobre a dificuldade de passar pela rodada de seed. Uma vez passada dessa etapa, que para inúmeros VCs indica o desafio de PMF, depois suas chances aumentam consideravelmente. Para mais detalhes:
    - Radicle Labs
    ;
    - Tribe Capital
    .

Tem mais um aspecto que não se fala muito no setor de venture capital, mas que se age intuitivamente: o dinheiro não é o mesmo dependendo da fonte. Matematicamente isso é suportado pela persistência de retorno dentre fundos da mesma gestora (artigo). O que isso significa na prática: as startups devem considerar termos diferentes, inclusive valuations, dos fundos de topo de quartil das suas respectivas regiões. 1 real de um fundo de primeira vale mais que um fundo mediano. É por isso que a Sequoia faz propaganda do aumento da sua taxa de graduação das rodadas de seed:

Comentários:

  • Não está clara a causa do aumento de chances de levantamento das rodadas subsequentes: os VCs mais bem sucedidos atraem os melhores founders? Eles têm melhores playbooks? Tem mais dinheiro para investir? Combinação de fatores?
  • Também é uma taxa de aumento conservadora: a amostragem de cada fundo é total, já do mercado não. Então, naturalmente, os melhores fundos devem impactar ainda mais as chances de sucesso da startup.

E a Sequoia tendo essa taxa acima, quanto teríamos na Astella? Pegamos um fundo nosso com maturidade o suficiente para o exercício, o fundo JIII:

Dado que fazemos somente o mercado brasileiro, com menos recursos e um contexto bem diferente de empreendedorismo, ficamos felizes em notar o impacto em aumentar as chances de sucesso das nossas investidas. Dependendo do real estágio de maturidade do empreendedorismo no Brasil, conforme o comentário sobre fractalidade anterior, atualmente podemos ter até uma diferença consideravelmente maior.

Assim fica mais fácil entender porque, da mesma forma que os nossos personagens, Founder Scale e Empreenda TripleDouble, notaram que não se calcula a chance deles passarem no vestibular pela simples relação vagas/inscritos, argumentamos aqui que os founders devem adicionar essa dimensão na hora de escolher os seus investidores de venture capital: 1 real de um fundo de primeiro quartil vale mais que um mediano, bem mais. 


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Disclaimers dos problemas desse exercício:

  • Amostragem: por definição, os grandes bancos de dados do mundo (CB Pro, PitchBook, CB Insights etc) não capturam todos os deals, então naturalmente essas probabilidades são otimistas por não terem toda a amostra. No Brasil, temos a Distrito Dataminer e a SlingHub fazendo esse trabalho, mas encontrarão limitações maiores que dos mercados globais, dado a imaturidade local em termos do setor de venture capital. Mas acredito que eles vão chegar lá;
  • Classificação de rodadas: como as rodadas têm diferentes definições (anjo, pre seed, seed, A, B, C etc), além de rodadas intermediárias (exemplos: extensão, reajustes de captable), existe a difícil tarefa de normalizar. Por isso o CB Insights trabalha com o conceito de primeira rodada, segunda rodada, assim por diante, ao invés de seed, A, B, C. Mesmo trabalhando com o PitchBook, que também usa rodada 1, 2, 3 etc, fizemos um ajuste para converter para a nomenclatura tradicional de seed, A, B etc. Em média, seria como se a terceira rodada do CB Insights/Pitchbook fosse uma série A, para efeitos de comparação. Não é perfeita, mas o suficiente para o nosso exercício.
Cassio Azevedo

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Cassio Azevedo

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