Venture Capital

A escassez de recursos em Venture Capital e os unicórnios

Reading Time:
tempo de leitura:
2
MInutes
minutos
A escassez de recursos em Venture Capital e os unicórnios
A escassez de recursos em Venture Capital e os unicórnios

Foto de Ivars Krutainis na Unsplash


É sabido que a soma dos efeitos das crises econômicas com eventos macroeconômicos causam redução de liquidez em venture capital. Abaixo, apresento alguns motivos pelos quais, na minha visão, é este movimento que possibilita as melhores safras de fundos de venture capital e impulsiona o surgimento de unicórnios eficientes, aquelas startups que, além de serem avaliadas em mais de US$1bi, têm fortes fundamentos econômicos.

O que cria os unicórnios é justamente a escassez, a falta de liquidez e a falta de recursos para investir em venture capital no início da jornada.  Um exemplo é a bolha "dot-com", que afetou os players de internet no final da década de 90. Nos anos seguintes, o crescimento e consolidação de startups como Google, Paypal, Salesforce, Amazon e Netflix demonstra essa tese. Além disso, a crise financeira do período de 2007 a 2009 marcou o início da trajetória de futuros unicórnios como Uber (2018), Airbnb (2017), Slack (2018), Spotify (2016), entre outros.

Acredito que um dos motivos para isso acontecer é a diligência dos investidores nesses períodos. Em cenários macroeconômicos mais delicados ou escassos no qual investidores evitam risco, os VCs demoram mais para investir, observando as empresas por mais tempo e, fazendo um uso mais exigente e consciente de seus próprios  critérios, concentrando recursos nas startups que possuem mais chances de conquistar mais mercado, os winners.

A cautela combinada com critérios mais rigorosos constrói um ambiente competitivo muito favorável aos winners. Durante as crises, há um número reduzido de startups disputando um mesmo espaço, por isso, as empresas que concentram recursos porque demonstram sinais claros de superioridade de seus produtos e estratégia contam com um ambiente menos competitivo, com menos destruição de valor (porque há menos recurso sendo usado para disputar clientes), além de uma eficiência grande de capital para as próximas rodadas.

Fonte: Carta

Diante de um cenário como este, ao analisar gráficos nos quais os valuations e os tamanhos dos cheques são menores, identificamos que os winners são startups mais eficientes já que apresentam crescimento com menos capital, uma vez que, por serem mais eficientes, dependem menos de capital e contam com menos competidores. Outro fator para a correlação entre crises e surgimento de unicórnios se explica pelo surgimento de um ambiente competitivo mais propício para os winners - startups que já demonstram sinais claros de superioridade para conquista de mercado, seja de forma orgânica, através do custo de aquisição menor e por menos players competindo pelo mesmo espaço, seja de forma inorgânica.

Além disso, outro ponto interessante é que os winners capitalizados encontram uma série de startups que foram criadas nos momentos anteriores à crise mas que não poderão mais contar com recursos para crescer ou para sobreviver, tornando-se alvos de aquisição para quem está despontando como winner.

Olhando mais especificamente para o Brasil no momento atual, encontramos um cenário global favorável para venture capital por conta dos valuations menores e um ecossistema mais maduro, caracterizado pelo contingente de founders voltando para empreender em segundas ou terceiras jornadas, com mais bagagem e experiência e, portanto, um potencial de sucesso maior. A baixa penetração de venture capital em relação ao PIB faz com que o cenário de escassez seja ainda maior, aumentando a relevância das escolhas e um mercado de capitais mais robusto, o que aumenta as possibilidades de saídas.

Um cenário similar foi visto entre 2010 e 2014, quando surgiu a mais relevante safra de empreendedores de startups que viriam formar o nosso "Brazilian Storm", os maiores cases de empresas VC-backed e unicórnios no Brasil, como Nubank, QuintoAndar, 99, Gympass, Stone, entre outras. No caso da Astella, por exemplo, nesse período investimos em empresas líderes das suas categorias no Brasil como a Omie e a RD Station, além de conhecer uma grande leva de outros fundadores que acabamos investindo posteriormente. O Guilherme Lima e o Vitor Pajaro, do nosso time, aprofundaram neste assunto no relato sobre o Ecossistema de VC no Brasil.

Fonte: Crunchbase & Análise Astella

Como podemos ver no gráfico acima, os casos de maior sucesso no Brasil foram fundados no período como consequência dos avanços em infraestrutura tecnológica, especialmente para mobile e cloud, do aumento da penetração de uso da internet e da elevada taxa de juros impactando diretamente no DNA das companhias ao demandarem uma maior resiliência e eficiência.

Acredito que estamos novamente vivendo uma fase que antecede a ebulição de novos unicórnios, os winners forjados pela escassez de recursos que vão conquistar os seus setores de forma rápida e eficiente. Costumamos dizer que venture capital não é uma corrida curta distância, é uma maratona de 42km e a Astella estará ao lado dos empreendedores durante toda essa jornada.

Laura Constantini

Written By

Por

Laura Constantini

More From This Author

mais deste autor

LinkedIn logo

Next Episode

Próximo Episódio

No items found.