Um semestre em 2020

O mês de janeiro desse ano às vezes parece uma memória distante, e os primeiros seis meses de 2020 trazem a sensação de uma década vivida.

Apesar da incerteza, das perdas econômicas e acima de tudo do triste saldo daqueles que se foram, também revisitamos as maneiras como convivemos, trabalhamos e aprendemos.

A tecnologia que se fazia presente na vida das pessoas de maneira frenética, ganhou um novo significado, quase de sobrevivência básica.

As grandes corporações que caminhavam em passos lentos nos bipolares processos de transformação digital, onde a necessidade de avançar convive com o instinto de autopreservação, ficaram sem opção senão apressar o passo da adoção de soluções das empresas da nova economia, quer seja como clientes ou em aquisições estratégicas.

Com transformações cotidianas avançando, é hora de o Brasil encarar o empreendedor de tecnologia brasileiro como o elemento capaz de transformar o destino do país.

Ao longo dos últimos 30 anos, as empresas financiadas por fundos de Venture Capital foram as que mais criaram inovação, valor e empregos ao redor do mundo.

É preciso que o Brasil abrace o empreendedor digital e o Venture Capital como parte de uma solução econômica e não apenas como uma classe de ativos.

Mas para isso acontecer:

Precisamos criar um ambiente mais favorável ao investidor que abre mão da liquidez e aceita o risco.

Sem risco, sem recompensa.

Precisamos criar um ambiente mais favorável aos que arriscam, falham, aprendem e retornam melhores e fortalecidos pelas cicatrizes dos erros.

Falir não pode ser considerado um ato quase criminoso.

Precisamos garantir que o valor gerado pelas companhias financiadas por Venture Capital crie uma riqueza superior no Brasil.

Que país é esse que sonha em criar mais empregos e renda, mas isenta de impostos uma série de modalidades de investimento que não criam novas posições no mercado de trabalho, ao mesmo tempo que não desenvolve uma legislação mais favorável ao empreendedor que vai gerar empregos, inovação e valor para toda a sociedade, e ao investidor que possibilita que os sonhos se tornem grandes.

Precisamos libertar o país de processos burocráticos que só favorecem velhas estruturas.

Precisamos ensinar tecnologia a todos.

Precisamos tornar o país atraente aos jovens que hoje tem a oportunidade de estudar nas melhores universidades do mundo para que eles tragam o seu conhecimento de volta.

Precisamos criar uma ponte de acesso para um número significativamente maior de brasileiros poderem aprender nos melhores centros de excelência do mundo.

Em especial para aqueles que não tem recursos.

Precisamos permitir que a diversidade cumpra seu papel natural de polinizadora da criatividade e da inovação.

O novo surge da união entre os diferentes.

Precisamos celebrar:

Aqueles que estudam,

Aqueles que pesquisam,

Aqueles que querem aprender,

Aqueles que trabalham incansavelmente.

Aqueles que arriscam seu patrimônio, suas famílias e a saúde em prol de novas empresas que podem transformar o futuro do Brasil.

A humanidade já enfrentou pandemias, e sobreviveu.

Vamos sobrevivendo essa também.

Mas se não aproveitarmos o momento para plantar as sementes de uma verdadeira transformação empresarial em torno da tecnologia no Brasil, a história ficará marcada pelas vidas que perdemos, e por mais uma oportunidade desperdiçada de mudar o futuro do país.

Texto originalmente publicado no relatório semestral da Distrito.

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