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Os Caminhos para Corporações Investirem em Startups

Como qualquer investidor, as grandes corporações também querem participar de investimentos em Startups como Uber, AirBnb ou Facebook. Essas Startups tiveram o crescimento acelerado e, em poucos anos, se tornaram líderes dos seus mercados.Todas receberam diversas rodadas de fundos de Venture Capital até se tornarem relevantes, até abrindo seu capital em Bolsa de Valores.
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Os Caminhos para Corporações Investirem em Startups
Os Caminhos para Corporações Investirem em Startups

Como qualquer investidor, as grandes corporações também querem participar de investimentos em Startups como Uber, AirBnb ou Facebook. Essas Startups tiveram o crescimento acelerado e, em poucos anos, se tornaram líderes dos seus mercados.Todas receberam diversas rodadas de fundos de Venture Capital até se tornarem relevantes, até abrindo seu capital em Bolsa de Valores.

Além do retorno financeiro, as corporações buscam benefícios estratégicos através do acesso e da visibilidade de novas inovações tecnologias disruptivas, que estão ditando a economia e o futuro dos negócios, e as Startups têm se provado mais eficientes e mais velozes no desenvolvimento dessas novas tecnologias. O acesso e a colaboração estratégica com Startups se dá por meio de iniciativas de Open Innovation e investimentos, lideradas pela área de Corporate Venture Capital (CVC).

As Corporações têm sido agentes importantes no financiamento de startups nos tempos modernos. Nos EUA, por exemplo, a atividade de investimento em negócios nascentes já é madura, tendo seus primeiros relatos de estruturas dedicadas nos anos de 1960 em empresas emblemáticas da época, como GM, DuPont e Exxon Mobil.

A estrutura operacional e diretrizes da área do Corporate Venture Capital, geralmente, ficam dentro da gestão da estratégia corporativa ou de negócios. Trabalham multifuncionalmente com as áreas de inovação, produtos e negócios, sendo apoiados nas transações por áreas de M&A, jurídico, diretoria e conselho. Essas equipes têm se tornado cada vez mais independentes, olhando não só negócios relacionados ao core business da Corporação mas também negócios adjacentes ou verticais emergentes.

Com isso, o número de novos CVC e a participação dos investimentos dentro do universo de Venture Capital têm crescido ano após ano. De acordo com dados da CBInsights, a proporção dos investimentos dos CVCs atingiu 25% dos deals de Venture Capital em 2019, sendo a maior parte dos investimentos em estágios mais avançados, como Series-B em diante.

No Brasil, de acordo com dados da Distrito, o montante reportado investido por CVC no Brasil ainda é baixo, não chegando a 5% do total do investimento de Venture Capital no país em 2020. Apesar disso, é notório o interesse e aquecimento da colaboração entre Corporações e Startups no país.

Dados do Pitchbook mostram que rodadas com a participação de CVCs são geralmente maiores do que rodadas sem a participação de CVC. Apesar do motivo não ser única e exclusivamente a participação do CVCs, — porque, por exemplo, rodadas de late-stage são normalmente lideradas por VC independentes ou investidores financeiros e ainda podem contar com múltiplos tipos e números de investidores, como de investidores como Growth Capital ou Hedge Funds — ainda mostra o forte apetite das Corporações.

De acordo com a TouchDown Ventures, o sucesso estratégico de um investimento de Corporate Venture pode ser medido por KPIs, qualitativos e quantitativos, relacionados ao Acesso a Novas Tecnologias, Trend Spotting e inteligência de mercado, relacionamento comercial e pilotos de inovação e o pipeline de M&A. Nesta última métrica, por exemplo, 11 aquisições da Intel entre 2009 e 2018 foram originadas pelas atividades de Corporate Venture, a Intel Capital.

Como as grandes Corporações investem em Startups?

Os investimentos pelas corporações podem ser construídos de duas formas:

De forma Direta

Os investimentos de forma direta são liderados pela equipe de corporate venture capital, e, geralmente, são estruturados por meio de dois acordos: um de investimento e outro operacional.

O Acordo de Investimento (de Capital Financeiro) é o modelo mais conhecido de Venture Capital, em que o investidor aporta o recurso financeiro para execução do plano de negócios e crescimento da Startup, em troca de uma participação no equity. Esse acordo visa primariamente assegurar o retorno do capital financeiro investido, em caso de sucesso.

O ideal nesse tipo de acordo é que a transação siga pari-passu aos termos e governança condizentes com os do mercado de Venture Capital, para o melhor alinhamento de interesses com empreendedores e atratividade de novos investidores de Venture Capital ou Growth Capital. Isso quer dizer que não deve haver preferência ou exclusividade para corporação além dos termos básicos de investimentos de Venture Capital. A Salesforce Ventures, por exemplo, assumidamente não lidera as rodadas. Prefere assim, para não competir com investidores de Venture Capital institucionais e poder apoiar, complementarmente, com uma proposta diferente à dos demais investidores.

Além disso, o fundador da Startup deve estar ciente e confortável com o futuro da estrutura e pessoas da operação do Corporate Venture, ao receber investimento de Corporações. O que quero dizer é que, geralmente, a jornada do empreendedor é mais longa do que a dos executivos dentro dessas corporações e, com essa realocação de pessoas, corre-se o risco de desalinhar os interesses ou planos em algum momento no médio ou longo prazo.

O Acordo Operacional ditará o modelo de desenvolvimento de negócio em conjunto, por alguma sinergia ou interesse mútuo entre corporação e startup. Geralmente, os executivos da Corporação e empreendedores da Startup desenvolvem planos em conjunto, alinhados à estratégia da corporação investidora e que gere valor para a Startup.

É uma convenção no ambiente de investimento em early-stage de Venture Capital que o fator mais importante para o sucesso de uma Startup, que transformará mercados e gerará muito valor, é a equipe de sócios fundadores e sua ambição e motivação de buscar construir negócios gigantes e transformacionais. Além do mais, temos como referência que, para Startups chegarem ao status de valuation de unicórnios (US$ 1 bilhão), levará em média 5 rodadas de investimento, com novos investidores financeiros a bordo em cada uma delas e sete anos de jornada. Por isso, bons empreendedores, que querem construir empresas gigantes ou com status de unicórnios, devem saber que precisarão buscar parceiros e investidores alinhados ao longo prazo nessa sua trajetória.

Como gestores independentes de Venture Capital, entendemos que a melhor forma de fazer esses acordos, entre Corporações e Startups, é que preservem a cultura e que a colaboração agregue primariamente aos processos já estabelecidos na Startup, ou seja, que alavanque as atuais máquinas, não modificando o propósito, missão e visão da Startup.

A colaboração ou investimento em empreendedores de alto nível no início da sua jornada pode ser um desafio para uma corporação. Por isso, os investimentos de CVC são feitos em rodadas de late-stage (Series-B e Series-C, em diante), quando a trajetória de crescimento da empresa é mais clara e as bases de produto e go-to-market são mais sólidas, assim como o caminho para liquidez do investimento é mais curto.

Além disso, há outros desafios comuns para uma corporação nos processos de investimento em Startups como velocidade, governança e tomada de riscos.

Um case bem sucedido de operação em CVC é a da Salesforce Ventures. Uma das principais formas que ela viu de colaborar e investir em Startups foi por meio da construção de um amplo ecossistema, chamado Salesforce AppExchange. Com isso, com as Startups com a solução com melhor fit dentro da oferta ou que melhor atenda seus clientes, a Salesforce pode apoiá-los fazendo o investimento e participando do seu crescimento. Foram mais de 400 investimentos em soluções SaaS B2B, como Snowflake, Stripe e DocuSign. Apesar de M&A não ser o foco estratégico da Corporação, 7 das aquisições nos últimos anos foram originados e investidos pela Salesforce Ventures.

A DocuSign, plataforma de assinaturas eletrônicas, foi um case interessante de Startup que seguiu a rota de Venture Capital até o IPO com relevantes participações de fundos de Corporate Venture. Em 2009, em sua rodada Series C, a DocuSign foi investida, entre outros investidores, pelo fundo de investimento VC da National Association of Realtors’ (Associação Nacional de Corretores Imobiliários Americanos), que ajudaram a disseminar a sua plataforma de assinatura eletrônica no ambiente de compra e venda de imóveis. Em 2012, na Series D, ela foi investida pela Salesforce Ventures, Google Venture, Comcast Ventures e SAP Ventures, parceiros que também puderam integrar a DocuSign em seus ecossistemas e criar novos canais de distribuição para a Startup.

Investimento de forma Indireta ou via Gestores Independentes de Venture Capital

Outra forma de investimento de Corporate Venture Capital é investindo como LP (Limited Partners) em fundos ou estruturas independentes. Essa é uma forma de alocar investimentos em Startups de forma indireta, terceirizando a construção e gestão dos investimentos, e se apoiando no acesso aos empreendedores de gestores especialistas.

Na Astella, por exemplo, como fundo independente de Venture Capital, temos orgulho de ter algumas das mais importantes corporações em seus setores em nossa base de investidores.

Fundos de Venture Capital independentes geralmente têm um alinhamento maior direto ao empreendedor pela questão do incentivo central dos gestores ser o retorno financeiro do capital. Esse maior alinhamento também gera um maior acesso a empreendedores. Então, os gestores constroem processos e plataformas para acelerar o crescimento de Startup e apoiar o empreendedor a executar o seu plano para que, em ciclos de 8 a 10 anos, se tornem empresas dominantes ou líderes de seus mercados.

Por que as Corporações investem em fundos de Venture Capital?

Corporações investindo em fundos de Venture Capital independentes já é cada vez mais uma ferramenta amplamente utilizada para diversificação do risco e alocação de investimento em inovação e acesso a empreendedores que, por outro meio, não teriam. Além disso, geralmente, para muitos executivos dessas corporações, trabalhar como parceiro de um gestor é uma forma de entrada ao terreno de investimento em Startups e de entendimento do ecossistema empreendedor e de inovação por meio da troca de insights e rede de contatos.

Portanto, para Corporações, investir em Fundos de Venture Capital é uma forma de:

  • Acessar ampla e irrestritamente investimentos em Startups, principalmente em early stage (Pre-seed, Seed e Series-A), que, em outros casos, sem estrutura, teriam dificuldade se fizessem sozinho.
  • Diversificar, equilibrar e reduzir riscos de disrupção do negócio e de inovação, sendo uma forma de investir ou participar em negócios que poderão criar disrupção no mercado da corporação, sem o risco ou investimento de uma fusão ou aquisição.

É importante deixar claro que, para o fundo de Venture Capital, não há incentivo em dar exclusividade para algum LP, ou seja, todos os investidores têm tratamento igualitário. Da mesma forma que várias corporações convivem na mesma base de investidores.

Aos empreendedores, e aos demais investidores financeiros do fundo, da mesma forma, é valioso contar com Corporate na sua base de co-investidores do fundo. Agrega para a parceria do fundo com opcionalidade em questões de distribuição, relacionamento, conhecimento e domínio de mercados para investidas, ainda mais com o alinhamento total no capital.

Bônus: vale ouvir o podcast Astella Playbook com Carlos Kokron, Managing Director da Qualcomm Ventures America. Link pro episódio.

Agradecimentos ao Edson, Daniel e Isabella pelos inputs e revisão.

Guilherme Lima

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