"Venture capital is a long game. Calling the outcome on funds that are less than 5 years old, where many of the portfolio companies haven’t even shipped their products, based on non-uniform, point-in-time valuation metrics, is like reporting the Super Bowl winner based on the result of pre-season NFL games or even training camp scrimmages. At best, it’s off the mark. - Scott Kupor"
Todo início de ano é considerado um momento crucial para avaliar os resultados de investimentos e ações tomadas no ano anterior. Na Astella, esse período também gera curiosidade sobre as remarcações feitas em nossos ativos, e este ano não foi diferente.
Marcações e Remarcações dos Ativos
A marcação de nossas investidas é dividida, basicamente, com base na realização de rodadas. Se a empresa teve uma rodada no ano base, a marcação reflete o valuation dessa rodada (sendo a empresa marcada a custo). Caso contrário, contratamos terceiros para elaborar o laudo de avaliação desses nossos ativos.
Para nós, os laudos de avaliação seguem duas abordagens principais:
- Avaliação por fluxo de caixa descontado (DCF): nesse método, são projetados os fluxos de caixa futuros da empresa e, em seguida, são descontados a valor presente, usando uma taxa de desconto apropriada.
- Avaliação por múltiplos de mercado: nessa abordagem, são utilizados múltiplos de empresas listadas comparáveis (como relação preço/lucro, relação preço/valor patrimonial, etc.) para estimar o valor da empresa em questão.
A primeira abordagem é comumente usada para empresas a partir do estágio Seed (quando já há operação, receita, etc.), enquanto a segunda é aplicada a empresas mais prematuras, considerando que não há dados suficientes para serem analisados.
As remarcações são realizadas no último trimestre do ano vigente, com exceções apenas quando há rodadas ou fatos relevantes ao longo do ano. O time de operações coordena junto com o administrador do fundo esse dia a dia.
Metodologias de Avaliação
As metodologias de avaliação no Brasil geralmente seguem as diretrizes do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e as normas internacionais de contabilidade adotadas no país. É importante observar que a escolha da metodologia pode depender do tipo de ativo, do setor e do propósito da avaliação. Além disso, as práticas de avaliação podem ser influenciadas por regulamentações específicas de setores e transações específicas. Por isso, apesar de existirem diversas metodologias, aqui na Astella utilizamos apenas 2 delas (fluxo de caixa descontado e múltiplos de mercado). Inclusive, a Lina Lisbona, Head de IR e ESG, listou algumas das principais formas de avaliação neste post do LinkedIn.
Outro ponto importante de se ressaltar é que todas essas metodologias apresentam resultados "precisos" na teoria, mas, ao mesmo tempo, na prática podem não parecer ser, pois não fornecem aos investidores informações sobre o valor final que uma empresa terá no momento de seu desinvestimento.
Gosto de pensar em foto vs filme da empresa. As marcações representam ganhos teóricos e não realizados em um único ponto no tempo (foto), e a ênfase deve estar nos retornos reais, realizados e distribuídos aos investidores (filme). Ou seja, ao final, pode-se ter um "plot twist" e tudo aquilo que era esperado pode não se concretizar - isso para o lado positivo, como negativo. Já vimos empresas (inclusive de nosso portfólio) serem marcadas a zero, que "ressurgiram das cinzas" e se tornaram grandes ativos - chamadas carinhosamente de "fênix" internamente.
Por isso, a importância de acompanhar as atualizações e remarcações com o olhar criterioso, sabendo que o que está ali pode ser apenas momentâneo e não se concretizar.
A Importância do DPI
Neste ponto podemos trazer luz para outra questão: ao se avaliar um fundo de venture capital, deve-se olhar para o DPI (Distributions to Paid-in-Capital) dos fundos e gestora - indicador que reflete quanto capital aquele gestor já devolveu a seus investidores.
Esse indicador é de extrema importância quando temos a intenção de entender mais sobre a gestora. Ao escolher o gestor ideal, investidores analisam diversos critérios e fazem diferentes perguntas para entender como aquela gestora funciona e qual a excelência do trabalho que entrega - uma pequena due diligence - em que este tema tem que ser um dos principais a ser abordado.
Aqui na Astella, se pegarmos nossos 9 fundos sob gestão (ativos e inativos; de portfólio e dedicados) teríamos uma TIR agregada de 44% ao ano (base Q2 2023) - ou seja, um investidor que investiu em todos os nossos fundos teria seus investimentos valorizados, nos últimos 14 anos, 44% a cada ano.
Neste post, o Nathan Beckord compartilha o que são esses indicadores de VC e como calculá-los.
A Disciplina de Investimento em VC
A disciplina de investimento em venture capital talvez seja uma das mais importantes, quando olhamos para investimentos. Ela é essencial para enfrentar os desafios únicos do mercado, permitindo que os investidores alcancem resultados sustentáveis e maximizem o potencial de retorno em seus portfólios.
Não só isso, já temos visto dentro de casa alguns de nossos investidores utilizarem a distribuição de fundos anteriores, para investirem em nossos novos fundos. Ou seja, é um processo que se retroalimenta a partir do terceiro fundo/vintage investido. Assim, quanto mais investirem, mais expostos a diferentes safras estarão e maior a chance de maximizarem seu potencial de retorno, diminuindo assim sua exposição ao risco.
Este é o principal motivo de incentivarmos nossos investidores a terem uma disciplina de investimento em VC - e não apenas na Astella. Sabemos da importância em se ter um portfólio diverso de gestores de VC. Então, se pudéssemos resumir todas essas informações em uma única estratégia que fizesse diferença para o investidor ao final, sem dúvidas seria construir um "programa de VC".
Sobre este ponto, nossos investidores e parceiros da PIPO, fizeram uma análise super interessante de retorno de investimento em gestoras de VC vs fundos de fundos que investem em venture capital. Vale a pena conferir neste link.
A Curva "J"
O venture capital é um negócio com um longo período de "gestação", mais adequadamente representado pelo que é conhecido como a "curva J". Ou seja, os retornos nos primeiros anos de um fundo são geralmente negativos - pois são nesses primeiros anos que o fundo está fazendo suas alocações (e, portanto, chamando capital de seus investidores) em empresas jovens e imaturas, que podem não ter saída por longos períodos.
Na fase de colheita de um fundo de VC (geralmente a partir do sexto ano), o fluxo de caixa começa a ser positivo para os investidores, compensando os investimentos realizados nos primeiros anos do fundo. Dando mais luz, é neste momento que os fundos entram no período de desinvestimento e, caso haja alguma saída (seja por rodadas mais avançadas, ou por possíveis M&As), os investidores já começam a receber retorno (DPI).
Abaixo, gráfico que ilustra a curva J, bem como o fluxo de caixa do fundo e, consequentemente, de nossos investidores:
Para trazer exemplos do nosso lado, no nosso Journey II, estamos com um DPI de 7x em seu 9º ano; já o Journey III está com um DPI de 0.5x de retorno em seu 6º ano. Ambos, em linha com a curva J e com as expectativas de retorno que desenhamos.
O Jogo de Venture Capital
O jogo de VC é de longo prazo. Precisamos estar a par de que, avaliar o resultado de fundos com menos de 5 anos com base em métricas de avaliação e marcações, é comparado a prever o ganhador do Super Bowl, como dito por Scott Kupor, ou da Libertadores, se formos trazer para nossa realidade. Há estatísticas que embasam, mas o resultado do jogo (ou o final do filme, melhor dizendo) apenas ficamos sabendo quando chegamos a ele.
Disclaimer: as informações aqui compartilhadas são baseadas na minha interpretação do dia a dia da Astella e a gestão de seus fundos. Importante ressaltar que não são recomendações de investimento.
Este texto faz parte de um projeto meu chamado "Almanaque de um Investidor de VC". Meu desejo é compartilhar com vocês, interessados no tema ou em investir em venture capital, o que aprendi nos últimos anos de mercado. Veja este material como um convite para interagirmos. Por isso, deixo aqui um pedido: se tiver qualquer dúvida ou tiver interesse em aprofundar qualquer assunto, me avise :) - o meu e-mail é isabella@astella.com.br
Almanaque do Investidor de VC:
- Introdução
- O Início
- O Jogo de Venture Capital
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