https://loveexpands.com/author/buddy-valastro/
O fim de semana foi agitado. Meus sogros, em conluio com a minha esposa, me falaram que iam fazer um pequeno chá de fraldas para o Martin, meu filho querido, previsto para chegar em dezembro deste ano. Chegando lá, me deparei com a verdade nua e crua: o evento era giga, com umas 50 pessoas, e uma quantidade interminável de comida e bebida, dos mais variados tipos. Ao acordar no domingo, com aquela sensação de exagero, pensei: por qual motivo eu comi tanto? Não satisfeito, ainda sob o efeito do sugar rush, me deparei em um devaneio sobre como conectar mais uma experiência glutônica com a minha responsabilidade de 1 artigo por mês com o reverenciado Editorial do The Matrix.
O maior bolo do mundo foi feito na cidade de Thrissur, no estado de Kerala, na Índia. No alegre dia de 15 de janeiro de 2020, a Associação de Padeiros de Kerala, escalou 1.500 boleiros para presentear a população de 316 mil habitantes com esse recorde, devidamente anotado no Guinness Book. A mensuração final foi de 5.3kms de bolo! E outras fontes acrescentaram que pesava aproximadamente 27 toneladas, além de terem usado 12 toneladas de açúcar e farinha. Mas o detalhe final que me deixou abismado: a população comeu tudo em 10 minutos! Isso seria igual a quase 3 toneladas/minuto! Como isso seria possível?
Pensei em 3 dimensões principais: capacidade de comer de uma pessoa, número de pessoas necessárias para comer o bolo todo, e como essa quantidade de pessoas pode caber no evento/cidade. Uma pessoa adulta come em torno de 1 tonelada de comida por ano. Isso equivale a 3kgs/dia (incluindo líquidos), ou 0,0021kgs/minuto. Daí vamos derivar os outros dados.
Olhando para a tabela acima e para o contexto do evento, achei razoável essa banda marcada como provável para explicar aquele número assustador de toneladas por minuto:
- Capacidade glutônica dos participantes: acredito que entre 50 e 200 gramas por minuto seja um limite ok para uma pessoa comer. Eu já fiz isso, não tem muito tempo, apesar de não me orgulhar;
- Pessoas necessárias para comer o bolo: nada assustador, mas insuficiente para entender dimensão física da cidade;
- Pessoas necessárias para comer o bolo/população de Thrissur: sendo uma cidade turística, de eventos (segundo o Wikipedia), esse percentual de gente participando me parece razoável, sendo de turistas e/ou da população local.
O princípio de razoabilidade com o storytelling de dados nos ajuda a ter uma noção geral de dimensão ou direção, não necessariamente de precisão. Em contextos de falta de dados, incertezas de amostragem, distribuição de cenários probabilísticos, isso já ajuda bastante. Para quem quiser se aprofundar, recomendo o trabalho dos autores: Michael Mauboussin, Aswath Damodaran, Robert Shiller e o Farnam Street. Todos discutem de alguma maneira o princípio da razoabilidade, e o conceito de storytelling de maneira mais abrangente, e alertam para o perigo de se perder no exercício de razoabilidade para o de racionalização da sua opinião, de maneira viesada.
Agora vamos para o exercício que nos interessa, porque tem um bolo que não para de crescer: como está a divisão de bolo do equity das empresas investidas de venture capital?
...
Este artigo é uma continuação do nosso anterior sobre captable, mas agora com uma perspectiva complementar nossa de mercado, o sempre importante outside view. Dado o momento que vivemos de excesso de liquidez, achamos interessante trazer a perspectiva de evolução histórica, ao invés de somente uma foto. Além de reforçar nossa filosofia de dados para apoiar ambos founders e investidores a enfrentarem a jornada com a perspectiva de mais valor para ambas as partes.
Premissas utilizadas:
- Atribuição de uma diluição de rodadas de FFF (família, amigos e azarados), anjos e pre seed de 15%;
- Não fizemos nenhum ajuste de captable dentre rounds, algo que é natural no setor, mas muito difícil de calcular maneira agregada;
- Valores em dólares americanos;
- Fonte: Pitchbook de dados brutos, organizados pelo nosso The Plot.
E o que encontramos?
Comentários & inferências:
- Os níveis de captable por rodada não são tão voláteis, como era de se esperar;
- Os founders têm sido beneficiados por mais equity ao longo desses anos, a despeito do excesso de liquidez. Realmente um período muito positivo para os heróis/heroínas da jornada;
- O menor ajuste absoluto entre as rodadas foi o da Série A, somente 7% entre 2006 e 2021. Me parece fazer sentido, por causa do maior nível de incerteza;
- Princípio da razoabilidade em relação ao contexto brasileiro: aqui na Astella, a despeito da menor disponibilidade de capital, produtividade menor e cultura de equity mais imatura do nosso país, tentamos ser diligentes com os founders para que a questão do captable não seja um impeditivo para o desenvolvimento da empresa. Esse debate é mais intenso nas rodadas de seed e série A. Ressalto que esse tipo de variável é dada pelo mercado, ou seja, não tem como fazer testes estatísticos para inferir que tal nível de captable por rodada aumenta a chance de sucesso por não termos como separar um grupo de controle (mesmo se possível, seria debatível o nível de causalidade versus correlação). Logo, trabalhamos com os founders para chegarmos juntos acima dessas medianas de mercado descritas acima, com a premissa de eficiência de capital que nos guia. Não é fácil, mas faz parte da nossa filosofia de investimento.
Valor do Equity após a Série D
Comentários & inferências:
- Impressionante como se comportou a outra variável que impacta na percepção de valor para os founders: o aumento de valor das rodadas mudou drasticamente a equação de incentivos;
- Se calcularmos quanto cada variável contribui para o aumento do valor dos founders, o aumento de valuation das rodadas responde por mais de 95%;
- Vale notar o aumento do capital levantado no período também, com CAGR de 12,31%. Ou seja, os investidores aumentaram o valor dos investimentos, mas não na mesma magnitude do aumento de valuation, apesar de em linha com essa melhor divisão para as startups. Recomendamos o nosso texto sobre investimentos do seed, último Crunchbase news de rodadas, e os níveis de tração para balizar cada estágio.
...
Ao que tudo indica, o mercado nunca esteve tão propício para uma jornada de empreendedorismo olhando somente para o prêmio. Me pergunto como esses dados deveriam ser entre 1999 e 2001, no período que precedeu a bolha da Nasdaq. E se olharmos para o risco de inúmeras naturezas desse atual contexto (excesso de liquidez, termos e condições contratuais inflando ativos e adicionando risco operacional, inflação de mão de obra etc.), talvez essa narrativa de momento único não fique tão clara. Mas a Astella está, e sempre estará aqui, para suportar os loucos que decidem investir seu futuro numa jornada de founder. Nos dando o direito de escolher, e ser escolhido, por aqueles que partem de premissas alinhadas a despeito dos contextos que vivemos, tentando chegar no final da jornada com o maior pedaço possível, e com menos risco, do bolo de sabor de equity, um dos mais saborosos do mundo.