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Carta do Gestor: O Efeito Mirabilis

Nos momentos de virada nos ciclos tecnológicos, é prudente recorrer aos livros de história para compreendermos em qual ponto estamos no ciclo da busca pela construção de inovação e valor ao longo do tempo.
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Carta do Gestor: O Efeito Mirabilis
Carta do Gestor: O Efeito Mirabilis

Nos momentos de virada nos ciclos tecnológicos, é prudente recorrer aos livros de história para compreendermos em qual ponto estamos no ciclo da busca pela construção de inovação e valor ao longo do tempo.

Yossi Vardi nasceu em 1942. Engenheiro de formação, aos 26 anos fundou a Tekem, uma das primeiras software houses de Israel, vendida alguns anos depois. Seguiu para uma carreira no setor público e, em paralelo, começou uma jornada que o levou a ser um dos mais prolíficos investidores anjo da região.

A atuação de Vardi é tão ampla que merecia uma carta inteira apenas dedicada a ela, que inclui passagens no setor de energia, posições internacionais no governo israelense e a participação ativa em 4 processos de negociação de paz do país com a Palestina, Jordânia, Egito e Síria. Segundo o site Israel21c, é o "Forrest Gump" da alta tecnologia.

Em 1996, Vardi investiu na Mirabilis, empresa do seu filho, Arik, criadora do ICQ, um dos aplicativos de mensagens instantâneas pioneiros da Internet. Dezenove meses depois, a Mirabilis foi vendida para a americana AOL por USD 287 milhões upfront e mais USD 120 milhões condicionados a metas de crescimento.

A venda da empresa deu origem ao chamado "Efeito Mirabilis", com a multiplicação de empresas nascidas e inspiradas naquele ambiente na mesma época que despontavam outras "mafia techs" no mundo: Paypal, Ebay, Netscape e tantas outras, presentes até hoje no mundo de tecnologia e Venture Capital.

Trazendo essa analogia para nosso mercado: se por um lado observamos uma queda no volume de investimentos em Venture Capital nos últimos meses, é importante entender que depois de um ciclo intenso investimento em Venture Capital, o país produziu uma quantidade relevante de empresas e, por consequência, de empreendedores e founding teams com o conhecimento e o preparo necessários para construir novos negócios de tecnologia.

Entendemos que o ecossistema Brasileiro de Venture Capital tem o potencial de viver agora o seu Efeito Mirabilis.

Vamos aos dados.

Volume de Capital Investido em VC no Brasil

Analisando o presente, na nossa realidade brasileira, o primeiro trimestre de 2023 teve uma queda expressiva no volume de capital investido em empresas nascentes de tecnologia no nosso país.

Investimento Total em Venture Capital no 1º Trimestre de cada ano - Brasil

Source: Distrito

A queda é menos violenta no volume de empresas financiadas nos estágios mais iniciais, porém igualmente expressiva.

Investimento Total em Venture Capital Early Stage no 1º Trimestre de cada ano - Brasil

Source: Distrito | Angel + Pre-Seed + Seed + Series A rounds

Uma maneira de quantificarmos o volume de empreendedores e founding teams com experiência em startups tech, é entender o número de empresas que receberam cheques Pre-Seed ou Seed, o que significa que captaram recursos com investidores institucionais para construção do time inicial, produto e a busca do Product Market Fit.

Número de empresas que receberam aportes Pre-Seed e Seed no Brasil

(A soma não considera write-offs e M&As)

Source: Distrito | Pre-Seed + Seed  rounds

Em um universo de 2671 empresas que receberam aportes Pre-Seed, e considerando um número médio de founders por empresa de 1,85, apresentado pela análise histórica do dataset do Crunchbase, temos um total potencial de 4941 founders e co-founders financiados no Brasil até o estágio de PMF.

Ampliando a análise para os founding teams e considerando uma média de 2 executivos por empresa, o número estimado cresce em mais 5342 pessoas nessa análise.

É claro que o cálculo não inclui os founders que nesse período captaram mais de uma vez, ou mesmo pessoas que circularam por mais de uma startup. Também não significa, em hipótese alguma, que temos esse volume de empresas com Product Market Fit no país, uma vez que nem todas graduaram para a Série A, mas de qualquer maneira é indicador de tamanho do aquário potencial de pessoas preparadas e qualificadas com conhecimento tácito na construção de startups tech.

Como observamos essa evolução em nosso Dealflow?

A Astella cadastra a cada ano cerca de mil novas empresas nos estágios iniciais de tecnologia, o que nos dá uma amostra relevante do perfil do empreendedor tech no Brasil, e claramente reflete essa evolução.

Apesar da retração de investimento no mercado como um todo, não observamos na Astella uma redução no topo do funil do nosso dealflow. Pelo contrário, no primeiro trimestre de 2023, tivemos um aumento de 36% de novas startups cadastradas no nosso funil.


Source: Astella Database / Affinity

Dealflow Astella - Análise: investimentos da Astella por Founder Persona

Definição das Personas:

A mudança em nosso dealflow e nos investimentos, em nosso entendimento, está diretamente relacionada com a oferta significativamente maior de Superfounders e MafiaTechs no mercado brasileiro. 

No ciclo dos juros baixos, muitos buscaram a oportunidade para empreender sem o preparo ou o mindset necessário. No entanto, em um ciclo de retração dos investimentos dos VCs, nem todos se sentem motivados em buscar jornadas empreendedoras, com receio de não conseguirem recursos, ou mesmo de não conseguirem construir negócios sem abusar de fontes de aquisição de clientes pouco sustentáveis - característica amplamente observada no período de pico de investimentos de Venture Capital.

Desde 2010, nos mantivemos fiéis aos nossos valores e à nossa tese de investimentos -  que busca empreendedores missionários capazes de transformar mercados, utilizando a tecnologia em negócios de consumo, software-as-a-service e marketplaces, e construindo empresas com inteligência e eficiência.

Para onde vamos?

Em nossa visão, o mercado de empreendedorismo tech no Brasil está prestes a viver seu "Efeito Mirabilis". Ao contrário de Israel e outros países europeus que consideram a atividade de Venture Capital um pilar para geração de empregos, inovação e desenvolvimento econômico, o Brasil não conta com programas relevantes do governo para desenvolvimento e investimento de risco. Mesmo assim, nosso ecossistema floresce graças à capacidade dos talentos locais e a enorme oportunidade de trazer eficiência para diversos setores da economia com o uso de tecnologia.

Após anos de aceleração da indústria de Venture Capital,  testemunhamos um volume recorde de empresas financiadas, com um notável crescimento na quantidade de Superfounders e “founding teams” de startups criando uma geração promissora de Mafia Techs. O Brasil tem hoje uma disponibilidade sem igual de capital humano para o desenvolvimento de novas iniciativas tecnológicas e um mercado com mais de 200 milhões de pessoas que criam uma demanda gigantesca por soluções em que a tecnologia é a resposta.

Somos um país empreendedor desde sempre. Empresas ícones nasceram e prosperaram aqui.

Referências globais em seus setores de atuação como Itaú, Boticário, Ambev, Gerdau, Klabin, Magalu, Aché, Cyrella, Bradesco, BTG, Sinqia, Dasa, Localiza, Natura… A lista é enorme. E não para nunca.

Como investidores, não sabemos o futuro, mas é nosso papel encontrar e apoiar com capital, conhecimento e conexões os empreendedores que estão dispostos a serem vetores de transformação. Conhecemos de perto o valor do processo para os indivíduos, seus times, investidores e a sociedade como um todo. E estamos prontos para acompanhar de perto a abundância que criarão. 

Para aqueles com verdadeiro espírito empreendedor, empreender é o único caminho.

Daniel Chalfon

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