Institucional

Aprendendo a ensinar os outros a ReadMe

No mundo do software, Readme é aquele arquivo .txt que o programador deixa registrado o manual de instruções do programa. É extremamente útil porque te mostra os principais truques de como usá-lo. E quem já não brincou, perguntando como seria bom se a minha companheira/companheiro, filha/filho, pai/mãe viesse com um manual de instruções?
Reading Time:
tempo de leitura:
4
MInutes
minutos
Aprendendo a ensinar os outros a ReadMe
Aprendendo a ensinar os outros a ReadMe

No mundo do software, Readme é aquele arquivo .txt que o programador deixa registrado o manual de instruções do programa. É extremamente útil porque te mostra os principais truques de como usá-lo. E quem já não brincou, perguntando como seria bom se a minha companheira/companheiro, filha/filho, pai/mãe viesse com um manual de instruções?

Pois essa semana eu descobri que tem gestores brilhantes que fazem exatamente isso: dão de presente para as pessoas ao redor deles um Readme. Nesse artigo do Hackernoon, Brennan McEachran compila 12 Readmes inspiradores de gestores do mundo de tecnologia.

Como nos últimos seis meses, eu e meus sócios nos lançamos em uma busca, junto com a ajuda do Márcio e Ana Carolina da Lidehra, para nos tornarmos melhores mentores de empreendedores, conselheiros de investidas, assessores de investidores e gestores de sócios, eu achei que seria apropriado eu oferecer a minha primeira tentativa de um Readme.

O que eu gostaria que as pessoas soubessem ao meu respeito para tornar a minha relação com elas mais enriquecedora para ambas as partes? Quais são os pontos que tenho que prestar atenção e melhorar?

Meu sonho de vida

Eu penso na morte todos os dias. Não de uma maneira mórbida, com medo, mas de peito aberto, e na busca de ter certeza que eu busque fazer as coisas com o carinho da última vez. Uma cena de filme que me define é a abertura do Soldado Ryan, quando ele já velho, volta a Normandia com a sua família para prestar homenagem a todos aqueles que morreram para salvá-lo. Nesse momento ele se ajoelha, e pede para a esposa “Tell me I led a good life. Tell me I’m a good man.”

Eu já sonhei em ser o Speed Racer. Já sonhei em ser o Neil Armstrong. Já sonhei em ser o Joe Satriani. Já sonhei em ser o Michael Mauboussin. Hoje eu sonho ser o John Wooden.

Eu também sonho em levar esse profissionalismo deliberado para outros aspectos da minha vida. Assim como vivemos o consumerization of the enterprise na última década, a próxima viveremos a enterprisezation of the consumer.

Minha personalidade

Eu sou um introvertido que adora estar com as pessoas. Isso quer dizer que a minha energia vem de dentro, mas eu dependo muito de compartilhar minhas idéias e intenções com os outros e de me sentir aceito pelas tribos das quais faço parte. Na prática, isso reflete na busca de balancear meu espaço pessoal com o espaço em conjunto com as pessoas que convivo: estar sozinho me faz bem e estar com os que eu gosto também. Eu tendo a buscar a aceitação e não lido bem com a rejeição. Isso é uma falha em constante busca de aprimoramento.

Eu sou bastante intuitivo, e portanto gosto muito de conceitos abstratos que podem ser trazidos para o mundo real. Isso quer dizer que eu sou mais bookwise do que streetwise, ou seja, eu gosto de estudar muito antes de ir para a prática. A falta de estrutura me incomoda. Isso não quer dizer que eu não goste de improvisar, mas busco fazê-lo dentro de parâmetros. Eu adoro buscar e intuir padrões, o que resulta em dificuldade de relacionamento em situações ou pessoas que não gostem da busca por padrões.

As minhas decisões tendem a ser estruturadas. Preciso entender a lógica e chegar a um processo dedutivo. Receber as informações de modo concatenado e dentro de um storytelling, é a melhor maneira de formar as minhas opiniões. Busco continuamente reforçar a minha flexibilidade quanto a modelos mentais diferentes e assim evitar viézes de comunicação.

A minha relação com o mundo é baseada em conceitos típicos de gestão de projetos e de service-desk: adoro pontualidade e planejamento e preciso que as tarefas sejam cumpridas. Cognitivamente não consigo relaxar enquanto a pauta não está encerrada. Tenho fluência para lidar com situações voláteis, incertas, complexas e ambíguas.

Minha ética de trabalho

Eu não paro. O meu trabalho e a minha vida pessoal são a mesma coisa. Isso não quer dizer que eu não ame estar com meus filhos, minha família e meus amigos; que eu não curta correr, pedalar e fazer yoga (iniciante). Mas ao longo de todas essas atividades, sempre surge um pensamento, idéia e ação que eu precise capturar e compartilhar. Mas gosto de manter esse ritmo sem apressar as coisas e muito menos sem esperar o impossível das outras pessoas. Eu não sou favorável a cultura da obrigação da carga horária. Mas quem ama o que faz não para de treinar e de querer jogar.

A minha semana gira ao redor do encontro semanal com os meus sócios às segundas. Me esforço ao máximo para que esse encontro seja produtivo para todos. Meu estado emocional está intimamente ligado a isso. Procuro ter blocos pré-determinados para as demais atividades ao longo da semana, dedicando as horas do dia comercial aos encontros (eu me encontro com muita gente: empreendedores, investidores, talentos das mais diversas frentes), e as horas iniciais e finais do dia para trabalhos intelectuais. Eu leio pelo menos 2h a 3h por dia, mas espalhando entre os espaços da agenda. Sempre trabalho aos finais de semana.

Minha relação com o outro

As pessoas que me abrem novas janelas tem um lugar especial no meu coração para todo sempre. Aqueles que me apresentam a novos livros, conceitos, práticas, atividades, experiências têm um papel preponderante na minha vida. Tenho dificuldade de lidar com pessoas que dão canelada e que querem mais tirar do que entregar. É um viés, e procuro moderá-lo dentro das necessidades do dia-a-dia. Não procuro a paz irreal, mas sim o conflito saudável.

A maneira como falo com as pessoas e elas comigo é extremamente importante. Ou seja, forma tem tanto impacto quanto conteúdo. Eu me desconecto fácil quando as pessoas divagam, não aceitam argumentos francos, tentam só vender seu ponto, gritam ou são agressivas. O Tim Urban descreve maravilhosamente como o Elon Musk se comunica como uma máquina, tirando os sentimentos do canal. É um objetivo de vida saber que é irracional esperar a racionalidade dos outros. Mas estou bem longe desse ideal.

Quer tirar o melhor de mim? Venha preparado e me traga alternativas para juntos compormos e construirmos. Eu adoro aprender e gosto de quem goste de aprender também. Me dou bem com quem gosta de fazer a lição de casa. Eu prefiro discutir algo depois do que ser pedido permissão antes.

Eu sou perfeccionista e sei o quão difícil é receber feedback. Me dê feedback com respeito e farei o possível para melhorar o mais rápido possível. Espero que você também saiba receber feedback e pelo menos me escute. Eu me afasto de pessoas que têm dificuldade de receber feedback. Eu prometo não refutar o seu feedback, e espero que você faça o mesmo.

Eu sei o quão difícil é receber um não. Eu tenho que dizer muitos nãos. E de tão dolorido, eu treino e me esforço para dizer não com respeito e substância. Eu espero o mesmo dos outros.

Eu não gosto de hierarquias e a princípio qualquer um pode ser meu sócio. Isso quer dizer que raramente eu digo o que fazer, mas adoro compartilhar (muitos) modelos mentais, exemplos e casos. Eu espero que você seja meu parceiro para desvendar esse mundo que é naturalmente volátil, incerto, complexo e ambíguo.

Eu gosto de me comunicar de maneira assíncrona primeiro (email, chat, etc) e síncrona na sequência (tel, ao vivo). É como se a primeira fosse o prelúdio (combinar o protocolo) e a segunda a fruição da troca.

Meus papéis e responsabilidades

Conhecer, ajudar e aprender com as jornadas de empreendedores. Me fascina a abertura que se cria quando não julgamos os empreendedores e tentamos olhar objetivamente para os desafios e propor maneiras de endereçá-los. A princípio qualquer empreendedor pode ser o próximo sucesso. O desafio é apontar potenciais gaps e maneiras de supri-los.

Criar e atualizar uma base de conhecimento que possa ajudar os empreendedores de maneira rápida e efetiva. Ou seja, buscar referências práticas (cases) e teóricas (playbooks) é o único jeito de ser efetivo e escalável. Esse é o nosso produto, nossa plataforma.

Conhecer, ajudar e aprender com investidores para os nossos fundos. É impressionante o poder exponencial de troca de informações, expertise, insights e dealflow com pessoas, famílias e instituições.

Me empenhar para que meus sócios e meu time possam ser o melhor que quiserem ser, que confiem em mim, confiem em si, sejam autônomos, e que juntos possamos construir com ciência e arte grandes coisas (daí o nome Astella). Sou um músico de banda, não nasci para carreira solo. Essa é a tarefa que eu tenho que me esforçar ainda mais. Ainda não aprendi a fazer 1:1s e a desenvolver meu time como eu desenvolvo empreendedores e investidores. Espero do meu time 3 coisas: paixão por aprender e ensinar, fascínio pelo sucesso do outro e obstinação por algum tipo de virtuosismo.

Edson Rigonatti

Written By

Por

Edson Rigonatti

More From This Author

mais deste autor

LinkedIn logo

Next Episode

Próximo Episódio

No items found.