Discutimos recentemente aqui na Astella, o livro “The Talent Code”. O escritor, Daniel Coyle, é um jornalista, estadunidense, que passou 14 meses conhecendo e explorando lugares que tinham em comum o fato de serem nascentes de talentos.
Após esses meses de investigação e descobertas, Daniel percebeu algumas congruências no modo em que esses lugares agiam, em relação a aprendizado e criação de habilidades, e as resumiu em 3 elementos fundamentais: a prática deliberada (deep practice), a motivação (ignition) e a orientação (master coach).
Segundo Coyle, esses 3 elementos, apesar de existirem separadamente, precisam andar juntos para que o processo seja eficiente.
“Each element is useful on its own, but their convergence is the key to creating skill. Remove one, and the process slows. Combine them, even for six minutes, and things begin to change”.
E, o que significa isso? Significa que, para você desenvolver e alcançar o seu código do talento, você precisa, primeiro, praticar (e muito) alguma habilidade; segundo, precisa ter algo ou alguém que te motive a isso (pessoas ou histórias que te inspirem, por exemplo); e, terceiro, um orientador que te ajude sempre a corrigir e a aprender com seus erros. Esses são os elementos formadores do código do talento.
Trazendo casos reais: muito se diz sobre a genialidade dos artistas do Renascimento, mas sabia que essa genialidade está atrelada ao esforço contínuo de aprendizado deles? Pois é, esse é um dos exemplos trazidos pelo autor durante o livro. Ele conta que artistas renascentistas, como Michelangelo e da Vinci, tiveram a oportunidade de desde cedo praticarem a arte da pintura reiteradamente ao lado de seus mestres, nas chamadas guildas (“ateliês”), de quem recebiam orientações sobre como sempre melhorar.
Por meio desse exemplo, conseguimos enxergar bem os 3 elementos básicos: deep practice, pois estavam sempre praticando; ignition, pois tinham mestres espelhos; e esses mesmos mestres, além de serem exemplos, também eram aqueles que os ajudavam com o “master coach”. Isso tudo reunido em um mesmo lugar: o ateliê.
Outro exemplo é o caso de Michael Jordan. Neste vídeo, ele conta um pouco sobre como é visto pelo público. Sendo descrito como alguém genial, nascido com um talento, e não alguém que batalhou por essa excelência.
“Maybe I led you to believe that basketball was a God-given gift and not something I worked for, every single day of my life.”
Muitas vezes quando vemos alguém fora do normal na área de atuação, esquecemos de explorar o quanto essa pessoa se dedicou e “trabalhou duro” para chegar aonde chegou e ser referência naquilo que faz. Dando a impressão de ser até mesmo algo “fácil” para ela.
“Maybe it’s my fault. Maybe I led you to believe it was easy when it wasn’t.”
E o que esse livro tem em comum com a Astella? Bom, basicamente ele explora a base das famosas “10.000 horas” de prática deliberada, que é um dos nossos critérios de investimento (“Experiência e Segredo”) no momento de avaliar as oportunidades. Apenas para entenderem, aqui na Astella, analisamos 36 critérios que foram sendo criados ao longo desses 12 anos de história e que nos norteiam em relação aos investimentos que fazemos.
E o que são essas 10.000 horas e como alcançá-las? As 10.000 horas nada mais são do que (muitas) horas que foram gastas em práticas deliberadas de alguma habilidade. Prática profunda sobre alguma área de seu conhecimento — que se torna mais eficiente quando em conjunto com os outros 2 elementos.
Esse é um dos pontos que nos chama a atenção pois, para a Astella, é importante que os founders dominem o assunto o qual querem que seja a base de sua startup. Os founders precisam ser referência naquilo que estão construindo — se ainda não são, que se tornem no futuro. Por isso, durante o pitch e as interações que temos, é um dos pontos que observamos.
Agora, olhando para nós mesmos, Venture Capitalists, como alcançar essas 10.000 horas na nossa área? A resposta para essa pergunta não é unânime, mas uma das hipóteses seria a mentoria.
A mentoria (ou orientação) faz com que nós estejamos sempre aprendendo com os empreendedores e, ao mesmo tempo, sempre repassando o que nós sabemos. Na via contrária, os estimulamos e trazemos questões provocadoras, com o intuito de sempre explorarem o melhor de si e corrigirem possíveis erros que possam estar cometendo.
Ademais, a questão de você ensinar alguém, faz com que você também esteja sempre se reciclando. Por isso essa troca Empreendedor x VC é tão rica e importante para os dois lados.
Importante pontuar que não necessariamente essa mentoria precisa ser Empreendedor x VC. Pode ser também VC x VC ou Empreendedor x Empreendedor. O ponto aqui é trocar!
Além disso, um ponto relevante que é trazido pelo livro é que quanto mais rápida a orientação for dada, menos tempo a pessoa perderá fazendo algo errado. Imagina quanto tempo economizaríamos em nossas vidas se nos fossem apontados os erros que cometemos e nos dado dicas de como sermos melhores??
Por isso reforço, estejamos abertos a dar e a receber orientações. Estejamos abertos aos erros e tornemo-nos melhores com eles.
Há poucos dias, descobri o significado de Astella e gostaria de compartilhar com vocês:
Sim, o significado de “Astella” tem tudo a ver com o que tratamos até agora: um lugar para aprendermos e ensinarmos. Um lugar para errarmos e acertarmos. Um “ateliê” para chamarmos de nosso.
Agradeço à equipe da Astella (Sato, Edson e Guilherme) e ao Guilherme Ferreira pelo tempo e inputs.